
Matheus Macarroni – 1º semestre de Jornalismo
Renata Ribeiro, repórter especial da Globo, falou ao DONC sobre o investimento na própria carreira e aconselha aqueles que querem seguir a vida de repórter: “O destino é incerto e na verdade é o que menos importa”. Leia a seguir os melhores trechos da entrevista:
DONC- Quando você começou a se interessar por jornalismo e a querer ser jornalista?
Renata Ribeiro- Eu sempre escrevi muito, sobre tudo. Na época do fim do ensino médio, em que tinha que escolher uma profissão, eu estudava teatro no Macunaíma. Eu me formei atriz lá aos 17 anos. Eu sempre quis ser atriz. Fui fazer a faculdade de jornalismo porque gostava de escrever, mas ainda era muito envolvida com o teatro, com grupos profissionais, encenando peças, estudando os autores. Mas aí eu fui me apaixonando pela ideia de escrever sobre o mundo não ficcional, sobre as histórias que a gente vive, sobre personagens que a gente conhece todos os dias.
Eu fazia o terceiro ano de jornalismo na PUC quando eu fui selecionada para a oficina de atores da Globo. No final do processo, eu devia decidir se ia para o rio investir naquilo, fazer novela ou se ficava e terminava a faculdade. Eu decidi que queria escrever e atuar a partir de textos meus. Eu vi que já estava apaixonada pela ideia de ser repórter de TV, de presenciar os fatos, escrever sobre eles e depois contar essas histórias. Hoje, acho que todo investimento na carreira de atriz me ajudou e me ajuda até hoje. Sou jornalista de TV, de audiovisual. Desde sempre.
DONC- Em todos esses anos de jornalismo, você sempre esteve na Globo?
Renata Ribeiro- Sim. Entrei para fazer um estágio no terceiro ano de faculdade e nunca mais saí. No entanto, nunca passei muito tempo fazendo a mesma coisa. Eu comecei na Globo como produtora do “Altas Horas”, do Serginho Groisman, e depois que concluí minha pós-graduação em economia e finanças, consegui uma vaga de repórter na GloboNews, em 2004. Passei cinco anos lá, aprendi demais. De fazer ao vivo e falar dez minutos no ar, direto, sem roteiro, no improviso, até entrevistar ministro e presidente. Cobri a crise de 2008 no mercado financeiro, a crise do PT. Fiz fontes, comecei a entender o que é escrever para a televisão. Só em 2009 fui para editoria de rede da Globo.
Fiquei três anos no Jornal da Globo cobrindo economia, tecnologia e inovação. Depois passei um tempo nos jornais locais – faltava isso para mim e foi uma descoberta incrível falar de cidades e fazer matéria de cultura e artes.
Hoje trabalho em todos os jornais, mas principalmente no Jornal Hoje e no Jornal Nacional. Acho que só agora sinto que existe uma identidade no que eu faço, no meu texto. Meu trabalho está mais maduro.
Me disseram uma vez que um repórter só pode dizer que é repórter depois de dez anos na rua. Acho que isso é verdade mesmo. Antes de uma década de reportagem, ninguém é repórter mesmo. Ainda estou aprendendo demais. Jornalismo tem isso. Quanto mais velho a gente fica, melhor. E com a mudança recente da nossa profissão, vejo um monte de novos caminhos pela frente. Estou indo fazer pós em roteiro!
DONC- Você é repórter especial da Globo, e até chegar a esse nível, há muitas etapas pelas quais você tem que passar. Você gostou mais de alguma função em específico? Ou não gostou de alguma?
Renata Ribeiro- Essa pergunta me fez pensar numa coisa: a gente ouve muito que tem que fazer o que ama. E isso é verdade. Mas a gente passa uma boa parte da vida profissional aprendendo a amar o que faz, entende? Por mais que eu ame minha profissão, a carreira de um repórter é longa e cheia de altos e baixos. Eu vou dar um exemplo: eu enjoo no helicóptero. Demais! Mas tenho que voar. Se tem notícia lá embaixo, até esqueço!
Não tem glamour. Um dia vai ser recebido pelo presidente da república, no outro, vai ser expulso da manifestação. Há dias em que almoço, Há dias que como esfiha na porta da Polícia Federal. Isso, para mim, é a delícia da profissão. Não tem rotina, nunca sei onde eu vou estar, quem eu vou conhecer.
Se eu devia escolher uma profissão na vida, acabei escolhendo uma que vale por muitas. Mas agora falando objetivamente de uma coisa boa e uma ruim: acho que não tem como descrever a sensação de fechar e exibir uma boa reportagem. E nem como explicar como dói cometer um erro. Acho que uma das coisas mais difíceis para o jornalista é entender que embora se busque e cheque a informação, há a necessidade ainda de ouvir todos os lados, pesquisar e se esforçar para contar as histórias do jeito mais interessante, vai acontecer de errar, e nós não podemos. Jornalista não pode errar.
DONC- O que te levou ao jornalismo econômico? Você tem vontade de fazer matérias sobre outros assuntos?
Renata Ribeiro- Essa é a minha área de especialização. Eu fui estudar economia para ter um diferencial e conseguir a vaga de repórter na GloboNews. A transição da produção para reportagem na TV é um desafio grande. E era o que eu queria.
Sempre que ia procurar a direção para falar disso, ouvia que jamais começaria na reportagem numa praça importante como São Paulo, que eu teria de tentar uma afiliada no interior. Mas eu não queria morar no interior. E não desistia. Até que o diretor da GloboNews na época me disse: “Renata, todos os dias eu recebo uns dez currículos de repórteres do interior tentando uma vaga aqui na GloboNews de São Paulo. Eles já têm experiência e você não. Mas tem uma coisa: eles não entendem de economia e aqui temos uma cobertura grande nessa área. Precisamos de repórteres que entendam desse assunto. Se você tivesse esse diferencial teria uma chance de conseguir começar na reportagem aqui”. Saí de lá e me matriculei na FIA/USP.
Pensei que não fosse passar da primeira aula, mas adorei o curso, o tema. Nunca mais parei de estudar. Hoje as pessoas na TV sabem que eu entendo de economia, mas todo repórter de TV é um “generalista”. A gente fala de tudo. Adoro fazer as matérias de comportamento também. E adoro notícia. Todo repórter de TV adora um factual!
DONC- Para você, qual a importância de investir na própria carreira, como por exemplo, comprar certos equipamentos com o próprio dinheiro e ir atrás de tecnologias que o veículo não faz questão?
Renata Ribeiro- “É fundamental. Ainda mais com as mudanças recentes no mercado, que ainda estão acontecendo. Está tudo em movimento, todas as redações discutindo o destino do que a gente faz. O jornalista hoje deve se enxergar como um empreendedor. Ele vai ter que fazer acontecer, algumas vezes dentro de uma grande empresa, outras vezes sozinho em uma empreitada. Então investir é fundamental.
Eu gosto de pensar em investir em formação, em conhecimento, em técnica. Investir em equipamento é algo que eu estou demorando a fazer. Eu acho que a tecnologia muda muito. Nos meus projetos paralelos penso em fazer parcerias para não ter que comprar tudo. Mas não vai ter jeito.
DONC- Qual matéria você mais gostou de fazer, e qual você menos gostou, ou te decepcionou?
Renata Ribeiro- Foram muitas matérias. Difícil escolher uma, mas lembro de alguns momentos especiais. Cobrir a crise do mercado financeiro em 2008 ao vivo na GloboNews com o pregão viva voz ainda ativo na bolsa de mercadorias e futuros me fez crescer demais. A cobertura do julgamento do Alexandre Nardoni e da Ana Carolina Jatobá no caso Isabela foi intenso, emocionante e um divisor de águas na minha carreira. A série Startups pro Jornal da Globo exibida em 2013 fechou um ciclo incrível de trabalho e crescimento naquele jornal (links de dois episódios: https://globoplay.globo.com/v/3772115
https://globoplay.globo.com/v/3771673). Já as que não gostei de fazer já esqueci, mas devem ter tido a ver com violência.
DONC- E para encerrar, qual conselho você daria ao pessoal que deseja seguir a carreira de jornalista?
Renata Ribeiro- Embarcar nessa sabendo que a viagem é longa por isso tem que ir aproveitando a paisagem. O destino é incerto e na verdade é o que menos importa!
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