
Eduarda Farias, Nathália Rosa e Sara Santana
– 2º semestre de Jornalismo
Quem assiste os noticiários hoje e vê Sandra Annenberg, Patrícia Poeta e Mari Palma, por exemplo, pode até achar que as mulheres sempre estiveram presentes nesta profissão. Porém, muito se evoluiu na história do ofício até que elas ingressassem no jornalismo e pudessem alcançar posições de prestígio neste mercado.
O aumento de mulheres no campo jornalístico se deu a partir do final da década de 30, com a profissionalização da carreira: criação de sindicatos, associações, divisão por editorias nas redações, exigência do diploma, inovações tecnológicas, entre outros.
Atualmente, as mulheres estão a cada dia conquistando espaço dentro do mercado de trabalho no jornalismo, estamos longe do ideal, mas seguimos caminhando. Em conversa com jornalista da ONU mulheres Brasil, Luciana Bruno, a profissional de 33 anos compartilhou as principais dificuldades que encontrou no início da sua profissão e atualmente.
“Acho que hoje a maior dificuldade é crescer na carreira. Acho que o jornalismo tem mais espaço e vagas para pessoas jovens. Chega um momento em que você não vê tanta gente mais velha nas redações, o que me soa como um alerta sobre o que fazer quando chegar na idade dessas pessoas. ”
A versatilidade do profissional
A jornalista também citou o fato do jornalismo exigir um profissional versátil e explicou sua opinião sobre as especializações importantes “outra dificuldade é aquela máxima que a gente sempre ouve de que jornalista tem que ser multimídia/multitask. Já ouvi isso em 2005 e continuo ouvindo hoje. No entanto, apesar de achar que a gente tem sim que saber mais de uma linguagem (texto, vídeo, redes sociais etc.), acredito que as empresas que eu achei mais legal trabalhar tinham as funções bem divididas (fotógrafos muito bons que só tiram fotos, jornalistas só de texto e outra só para vídeo). Acho que a qualidade do serviço é muito melhor quando as funções são divididas e especializadas” afirmou.
A jornalista Meiri Borges que atualmente atua como diretora da divisão de comunicação social da câmera de Osasco levantou durante a entrevista o ponto da pressão que os jornalistas sofrem dentro das redações e indica que os novos profissionais devem “buscar fontes que ajudem a controlar ansiedade. Uma pessoa que está em paz consegue enfrentar situações de pressão com mais facilidade. Para isso, aconselho se cercar na medida do possível, de pessoa boas, ler livros que te orientem tanto no âmbito profissional quanto o pessoal, e encarar a pressão como um desafio” explica.
O papel da mulher no jornalismo

Quando questionada sobre o papel da mulher no jornalismo, Meiri Borges relata que nunca sofreu preconceito por ser mulher na profissão e acrescenta o fato de ter portas abertas para novas oportunidades, porém, compartilha conosco um episódio que vivenciou em um de seus empregos. “Já fui assediada por um chefe. Ele tentou me agarrar. Eu saí correndo e não voltei mais lá, pedi demissão. Dentro de mim, sentia raiva, impotência, e muito nojo, ele chegou a encostar a boca no meu rosto… que nojo! ” Desabafa.
A situação descrita é a realidade que muitas jornalistas enfrentam ao exercerem sua profissão. Em levantamento realizado pela Associação Brasileira de jornalismo investigativo foi constatado que 64% das jornalistas já sofreram abuso de poder ou autoridade de chefes ou fontes. O jornalismo por ter acesso a um maior número de pessoas, gera voz para as que sofrem assédio, seja dentro ou fora do jornalismo.
A realidade do assédio, igualdade de gênero
A jornalista Meiri afirma que com o tempo e conscientização dos profissionais e pessoas, o assédio deve diminuir, “os homens que gostam de praticar este tipo de assédio estão um pouco mais arredios, pois atualmente é mais fácil para denunciar, as redes sociais são ferramentas aliadas, com grande poder para expor. Geralmente os homens que tem este tipo de comportamento se encontram em cargo de chefia, liderança e por isto se sentem no direito de cometer o assédio. ”
Luciana acrescenta, “ quando era bem mais jovem, estagiária, sofri assédio sexual. Não fiz nada na época porque não tinha a consciência política/feminista que tenho hoje. Acho que as lutas feministas têm ganhado espaço nos últimos cinco anos, o que permite que casos de assédio sexual sejam mais facilmente denunciados, combatidos e prevenidos. Assim como em outras profissões, é comum ver especialmente pessoas em posição de poder assediarem subordinadas e subordinados. Movimentos como o MeToo (http://www.hypeness.com.br/2017/10/metoo-mais-500-mil-mulheres-expoem-o-tamanho-do-abuso-e-do-assedio-no-mundo/) estão aí para combater isso.”
Ainda há um longo caminho para ser percorrido até que a igualdade de gênero se estabeleça no jornalismo profissional, é importante denunciar e usar a voz que as mulheres vêm conquistando com o tempo.