“A banalização da informação é o que mais me preocupa nos dias de hoje”, afirma o repórter investigativo Márcio Harrison

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Repórter investigativo Márcio Harrison analisa os desafios da profissão. (Foto: arquivo pessoal)

Fabrício Julião Filho – 1º semestre de Jornalismo

Ao conceder entrevista ao DONC (De Olho Na Carreira), Marcio Harrison, repórter investigativo da Record, analisa Fake News, comenta os desafios do jornalismo investigativo e dá dicas para aqueles que desejam seguir nessa área.

Márcio começou a carreira trabalhando como radialista, é formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Santos e também em Direito. Os temas abordados na entrevista são recorrentes da vida de jornalistas cujos nomes e rostos não são tão conhecidos, mas que são fundamentais para o relato das informações divulgadas.

DONC- Como é ser um jornalista investigativo?

Marcio Harrison- Ser um jornalista investigativo é ter fontes e, para ter fontes, tem que ter contatos. É preciso ir nas delegacias, nos distritos policiais, buscar informações no ministério público, na magistratura, no instituto de criminalística. Você precisa ter uma cadeia de informações e fontes fidedignas para que possa realmente te dar uma informação precisa e certeira. O princípio básico do jornalismo investigativo é, além de ter fontes, sempre checar com outras fontes para ter certeza do fato e não perder credibilidade.

DONC- Quais são os desafios que um jornalista investigativo enfrenta?

Marcio Harrison- O principal desafio é você encontrar casos bons, casos de repercussão, ficar sempre antenado e investir em um caso que mereça. Não é fácil, tem que ter um tato para você mensurar aquilo que vale a pena e o que não vale, é uma dedicação integral o tempo inteiro.

DONC- Quais as principais características que um profissional desta área deve ter?

Marcio Harrison- Uma das dicas é não acreditar totalmente em fontes oficiais porque elas vão sempre ter a tendência de diminuir a importância do fato. Não se basear apenas pelas estatísticas governamentais. O bom jornalista investigativo procura encontrar o outro lado da notícia e de outra forma, sempre investigando e checando todas as informações.

DONC- E como está o mercado de trabalho atualmente para quem atua nessa área?

Marcio Harrison- Com a não obrigatoriedade do diploma de jornalismo que foi tirada pelo Supremo Tribunal Federal, nossa profissão recebeu uma pancada na cabeça. A gente pode ver nas redes sociais todo mundo fazendo jornalismo e eu me pergunto: Que qualidade que tem? Quem está checando?

DONC- O que mudou no jornalismo, para você, desde o início da sua carreira até os dias de hoje?

Marcio Harrison- O que mudou do passado para o presente foi a banalização da informação. O acesso a informação está muito fácil e tem muita gente mentirosa, as chamadas Fake News, que passam notícias como se fossem verdadeiras, com credibilidade. As pessoas estão sendo muito crédulas, acreditando em tudo e em todos. Um ótimo exemplo foi o caso Fabiane que cobri, uma jovem moça que foi tida como matadora de criancinhas por magia negra e foi assassinada a paulada, graças a esses mitos urbanos.

DONC- Você cobriu o assassinato das jovens Fabiane e Solange, como é cobrir esse tipo de caso impactante?

Marcio Harrison- No caso Fabiane, eu estava indo para o shopping quando, de repente, a polícia militar me acionou, o tenente me ligou e disse: “Márcio eu estou aqui com uma senhora que está sendo morta por mitos urbanos”. Quando eu cheguei lá, eu nunca tinha visto tanta gente, umas 10 a 20 mil pessoas assistindo como se fosse uma arena popular. Quando tiramos a Fabiane de lá, eu, a polícia e os bombeiros fomos apedrejados, por pouco não acontece uma tragédia maior. A Solange foi jogada da pedra do Anchieta em Itanhaém e morreu de poli traumatismo. É realmente difícil.

DONC- Você deve se lembrar do assassinato de Tim Lopes (2002), como você reagiu ao saber a tragédia que aconteceu com um colega de profissão?

Marcio Harrison- Foi muito triste, eu estava no terceiro ano de direito quando o Tim Lopes foi morto e queimado no chamado “micro-ondas” (EXPLICAR). Ele foi morto com requintes de crueldade enquanto fazia uma matéria que, apesar de não me lembrar muito dos detalhes, era muito importante. Foi um golpe duro para o jornalismo investigativo porque nós colocamos o bem mais precioso que temos em risco: a nossa vida. Quando isso veio até nós, que exercemos jornalismo de segurança pública, em especial o investigativo, foi um sinal vermelho.

DONC- Para finalizar, qual dica você pode dar para os jovens interessados em seguir carreira no jornalismo investigativo?

Marcio Harrison- A dica que eu dou é a pessoa ser vocacionada. A profissão tem que ter escolhido a pessoa. Por dinheiro, existem muitas outras profissões na frente. Ao ouvir o primeiro não da carreira é importante que o jovem não desista, mas é preciso não se deixar abater e ficar deprimido. As dificuldades que um recém-formado tem de querer ganhar um dinheirinho para se sustentar, ajudar o pai e a família, não podem deixar que isso os façam desistir.

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