Vinícius Saponara analisa fake news e a parcialidade no jornalismo esportivo

Matheus Macarroni – 1º semestre de Jornalismo

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Jornalista Vinícius Baldin Saponara, hoje na Agência Estado. (foto: arquivo pessoal)

A equipe do blog DONC (De Olho Na Carreira) entrevistou o Subeditor da Agência Estado, Vinícius Baldin Saponara. Na conversa com o jornalista, com experiência na Gazeta Esportiva, em O Estado de São Paulo e na Rede Record, falou sobre as redes sociais no jornalismo, a diferença entre essa profissão na televisão e na internet e sobre as suas mudanças de meados dos anos 1990 até os dias atuais.

DONC- Você se formou em jornalismo na Cásper Líbero em 1998. Como se deu a sua trajetória da faculdade até o Estadão?

Vinícius Saponara- Sempre gostei de escrever e ler, então queria fazer jornalismo – queria esportivo, já que eu tinha um domínio sobre o assunto. No prédio da minha faculdade, existia o jornal da Gazeta Esportiva. Em 1997, no terceiro ano, a Gazeta começou a pensar em renovar a equipe e começou a usar a mão-de-obra barata que ela tinha disponível, os estagiários.

No segundo semestre, abriu-se vagas para os estágios e eu entrei. De manhã ia às aulas e a tarde eu ia para a Gazeta. No começo, eu cobria futebol internacional. Via o Ronaldo (Ronaldo Luís Nazário de Lima, ex-atacante da seleção brasileira) na Inter (Internazionale de Milão, clube que o ‘Fenômeno’ defendeu de 1998 a 2002), o Rivaldo (Rivaldo Vítor Borba Ferreira, também ex-atacante e companheiro de Ronaldo na seleção) no Barcelona (time tradicional da Espanha, onde o jogador atuou de 97 até 2002). Aqui no Brasil era Corinthians, Palmeiras, São Paulo. Sentia que os editores confiavam na gente, viam que era uma geração boa.

De 97 para 98, havia os setoristas. Iam um repórter experiente e um foca, para o iniciante ganhar mais experiência. Naquela época era legal, havia mais liberdade. Não tinha assessoria de imprensa nem do jogador. Não tinha treino fechado, havia menos burocracia para falar com os jogadores.

No começo dos anos 2000, começaram a surgir vários sites, como ‘Lance!’, ‘UOL’, ‘IG’, ‘Terra’, ‘Pelé.Net’… E nessa época, veio um site latino americano chamado ‘SportsJá!’. Muitas empresas perderam funcionários para esses sites, por que o investimento era muito alto.

Era como uma bolha, só ia crescendo, e isso chegou para mim também. Nós cobrimos as Olimpíadas de Sydney (ano), eu particularmente não viajei, mas a cobertura foi muito legal. Com o tempo, muitos sites faliram porque gastaram muito dinheiro, e o ‘SportsJá!’ não foi exceção. Em março de 2001, mais especificamente.

Um mês depois, fui pra Record, e já fui cavando meu espaço no esporte. Com 6 meses lá, consegui uma vaga no esporte, na edição.

Em 2005, saí da Record, fiz alguns “frilas” (freelancers, serviços profissionais por conta própria e sem vínculos empregatícios). Eu tinha um amigo que trabalhava no Estadão, mais especificamente na Agência Estado, na área de esportes, o que me levou a conseguir uma vaga lá. Sem registro, não era contratado. Em 2007, houve algumas mudanças e eu saí. Trabalhei três meses no site da Gazeta esportiva, e no começo de 2008, voltei para a Agência Estado, e até hoje eu estou lá.

DONC- Quando você começou, a Internet não era como hoje. Como você enxerga o avanço da internet e a voz que isso deu à todas as pessoas?

Vinícius Saponara-  Não foi a internet, e sim, as redes sociais. Na época, a internet não era tão difundida como hoje, o laptop era um computador, tablets não existiam e celular só aquele que se abria e possuía antena.

Isso começou no Facebook, mas o ‘Boom’ mesmo foi por volta de 2012 no Facebook e no Twitter. Com isso, a divulgação de notícias se popularizou, mas o cuidado para com a veracidade dos fatos teve que aumentar muito, quando não há esse cuidado, a chance de haver barrigas (quando o jornalista não checa informação falsa e a publica) e fake News é muito maior. Muitos lugares emitem as notícias sem saber. Você deve sempre confirmar antes de emitir, com as pessoas diretamente ligadas ao fato e com a sua fonte.

Vinícius Saponara-  Como na internet não há o horário existente na TV, o deadline (prazo de entrega) nessa plataforma torna-se secundário, e em primeiro lugar deve-se emitir a notícia o mais rapidamente independente desse deadline?

Vinícius Saponara- Na internet, têm e não têm esse deadline. É verdade, quanto mais rápido melhor, mas nós temos que tomar cuidado, os fatos mudam quase que instantaneamente. Nesse caso, pode-se usar a frase ‘O apressado come cru’. Às vezes, na pressa você pode errar alguns detalhes, pode dar uma informação errada.

DONC- Pessoas que gostam de futebol têm um clube de coração, antes de profissionais da área são fãs do esporte e torcedores de algum clube. Como se faz para esse lado do torcedor se ausentar completamente do lado do jornalista, como ser totalmente imparcial?

Vinícius Saponara- É difícil. Muitos não divulgam, apesar de saberem o time de alguns. Acho que todos devem ser imparciais. Eu devo ter a visão de que se o meu time perdeu, foi porque jogou mal, e não por culpa do juiz ou de terceiros.

Quando se é jovem, você tem um fanatismo. Com o passar do tempo, você vai vendo algumas coisas de um modo diferente e perde um pouco do brilho, você não fica mais tão deslumbrado. Você deve trabalhar essa parcialidade. É um exercício.

DONC- É inevitável que nessa profissão haverá momentos em que você tentará algo de novo. Qual é o momento ideal para se arriscar?

Vinícius Saponara- O momento ideal é qualquer um. Sempre é um bom momento, você não pode se estagnar e achar que está no topo, a ponto de pensar que não precisa se reinventar, e em momentos ruins, a inovação pode te ajudar a se encontrar numa posição melhor.

 

 

 

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