Diogo Schelp relembra carreira como repórter de conflitos e dá dicas a jornalistas internacionais

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Diogo Schelp, editor executivo da revista Veja, ao lado de uma das principais capas da revista. Foto: Maria Fernanda Fernandes.

                                                                            Maria Fernanda Fernandes – 1º semestre de Jornalismo

Diogo Schelp,  formado pela Universidade de São Paulo, é atualmente o editor executivo da revista VEJA. O jornalista tem especialidade na área de cobertura de conflitos. Entre seus livros, Diogo escreveu Correspondente de Guerra, que relata os riscos para um jornalista que vai cobrir guerras nos últimos 20 anos.

A equipe do blog De Olho Na Carreira foi até a redação da revista VEJA, na Editora Abril, e conversou com o jornalista.

DONC- Por quê escolheu a carreira jornalística?

Diogo Schelp- Sempre soube que queria ser jornalista. Na escola, eu gostava muito de história e até seria uma opção, porém nunca achei que fosse algo que me daria muitas escolhas na profissão e eu também não queria ficar só na academia estudando. Eu queria participar das coisas e o jornalismo me dá essa opção.

DONC- E jornalismo de guerra?

Diogo Schelp- Acho que está relacionado com esse interesse por história do país e mundial. É uma consequência do jornalismo internacional, pois uma parte dele é a cobertura dos conflitos. Faz parte do esforço diplomático essa resolução de problemas entre os países, ou dentro de nações. Eu acho estranho quando alguém fala que quer fazer jornalismo para cobrir guerra, pois é uma coisa dentro da outra, é uma consequência.

 DONC- Qual foi a primeira experiência com jornalismo internacional? E de conflito?

Diogo Schelp- Quando você começa a fazer entrevistas com gente de fora do Brasil, já é um primeiro contato com temas internacionais. No meu caso, eu era correspondente em Porto Alegre e depois Salvador, então tratava de questões brasileiras pela VEJA, aí por interesse próprio fiz entrevistas com estrangeiros. Com isso, a revista viu meu empenho nessa área e me chamaram para cobrir assuntos internacionais. A minha primeira experiência em conflitos foi em Israel, mas foi tranquilo.

DONC- Na sua opinião, qual o maior desafio do jornalista atualmente?

Diogo Schelp- O maior desafio do jornalista atualmente é você mostrar para o seu público que eles podem confiar em você e não na enorme quantidade de conteúdos que são disseminados na internet. Hoje, o problema é que não concorremos mais só com veículos sérios, o que era ótimo, pois antigamente nosso desafio era ser melhor do que fontes que eram realmente boas. Atualmente, concorremos com conteúdo de qualidade ruim e que as pessoas acreditam, mesmo sendo falso e de qualidade ruim.

DONC- Qual foi o conflito mais difícil de cobrir?

Diogo Schelp- Nunca fiz uma cobertura de guerra que vai para a linha de frente. O que é mais difícil no jornalismo de conflito é ter acesso a lugares que dificilmente um repórter chega. Meu maior desafio foi no oeste do Sudão, fiquei na região por três semanas, e duas delas foram para tentar chegar lá e uma para cobrir o conflito, até hoje tem genocídio e massacres de etnias inteiras nessa área, o ambiente todo é arriscado, tem riscos de sequestro, você tem que negociar com milícias armadas. Ao contrário do que muita gente pensa, o mais difícil dessas reportagens não é o momento que você está diante das situações de risco e sim ter acesso a essas áreas.

DONC- Quais são as vantagens e as desvantagens de ter escolhido essa área do jornalismo?

Diogo Schelp- A vantagem é que você tem acesso a coisas muito diferentes do que estamos acostumados, conhecemos culturas diferentes, locais que você nunca iria se não fosse pela profissão, ver modos de vida muito distintos do que estamos acostumados. A maior desvantagem é que você conta e descobre coisas de relevância internacional, porém por estar contando em português a matéria não tem a repercussão que deveria ter caso fosse publicada em inglês; já fiz várias reportagens de padrão internacional, mas que por conta da língua ficou limitada.

 DONC- O que te levou a escrever o livro Correspondente de Guerra?

Diogo Schelp- Em resumo, eu havia mandado um jornalista para o Iraque para fazer uma reportagem sobre o avanço do Estado Islâmico (EI) na região, e na mesma época saiu o primeiro vídeo do EI matado um jornalista, e fiquei muito assustado, ainda mais por ter mandado um colega meu para o local. Por conta disso, resolvi estudar o assunto, para saber se o jornalismo havia se tornado uma profissão mais perigosa do que era e tentar entender as razões disso. A conclusão do livro é que está bem pior hoje do que antigamente, pois antes o repórter não era o alvo em si, ele poderia ser morto por estar ali no meio da guerra e não ser morto simplesmente pelo fato de ser um jornalista.

DONC- Você fala no livro sobre os riscos que um jornalista que cobre conflitos está exposto, e como os perigos aumentaram a partir do século 20. Quais dicas você pode dar para quem quer seguir essa área?

Diogo Schelp- Primeiro vire um jornalista. Você não vai entrar na profissão com objetivo de ser um jornalista de guerra. A pessoa tem que pensar em procurar respostas para as questões que nos afligem e caso você tenha interesse na área procure estudar sobre o assunto. Comece com o que você tem disponível a sua volta, vá conversar com os refugiados que estão vindo para o Brasil, já é um primeiro contato para conhecer um pouco esse mundo, pois não existe uma preparação para um repórter de guerra. O fundamental é que a pessoa tenha compreensão do contexto e das histórias dos conflitos.

DONC- Qual foi maior desafio que você teve na sua carreira? ”

Diogo Schelp- Eu tenho um desafio diário, pois eu edito reportagens sobre conflitos há 15 anos e o desafio que eu ainda tenho é lidar diariamente e emocionalmente com histórias e imagens de civis e pessoas inocentes que morrem em conflitos, é algo que até hoje me emociona.

Diogo Schelp- Uma frase que leva para a vida.

Diogo Schelp- A minha frase é de uma música de um dramaturgo alemão, e a pergunta é assim “O que mantem a humanidade viva?”, pois quando vemos tudo que acontece no mundo a gente tem que pensar em tudo que acontece e ver o que ainda resta para manter a existência humana. Aí, nos lembramos das coisas boas da vida, como por exemplo amor, solidariedade e tudo de bom que temos para oferecer.

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