Marina Santa Clara Yakabe é assessora de imprensa do Laboratório Fantasma, grupo que colabora com os artistas como Emicida, Rael, Fióti, Capicua, Akua Naru e Kamu. O coletivo é formado por amantes de arte urbana e foi criado em 2009, para atender a venda de roupas produzidas artesanalmente. Atualmente administra, além das roupas, projetos, shows e colaborações.
Marina conta sobre o início de sua carreira. Ela começou em 2003, trabalhando como repórter e redatora no jornal Agora São Paulo, onde ficou durante oito anos. Em seguida, passou a ser redatora no portal R7, da Rede Record, até 2012. A profissional acredita que no jornal teve um aprendizado importante e valioso, mas que no site sentiu um certo vazio, pela menor carga de trabalho.

Marina Yakabe, assessora do Laboratório Fantasma
A jornalista diz que a transição de um veículo tradicional para a assessoria de imprensa foi tranquila de forma geral, mas que a princípio não queria ficar por muito tempo na área. Pensou assim até sua gravidez, quando percebeu que não conseguiria ter um filho e estar em um veículo tradicional, trabalhando 14 horas por dia. Ela complementa que tinha uma visão estereotipada de que assessor de imprensa não era jornalista, que só aceitou o emprego porque trabalharia com pessoas e com um tema de que gostava. Porém teve algumas dificuldades para se adaptar.
“Eu comecei na assessoria da Lab Fantasma sem saber fazer muitos dos trabalhos mais burocráticos de um assessor, mas naquela época tive que insistir com os amigos assessores para que me ajudassem. Eu só sabia fazer release porque pensava nele como uma matéria”, fala.
Mercado de trabalho
Marina afirma que no mercado geral, quando o assessor tem vários clientes, é remunerado por projeto ou contrato. No entanto a jornalista diz que por ser assessora do Laboratório Fantasma e não de artistas individuais seu salário é fixo.
A jornalista descreve que sua rotina não é fixa e se resume em administrar a demanda de entrevistas para os artistas e também sugerir pautas de acordo com os projetos que o grupo quer divulgar. “Eu não preciso ir para o escritório todo dia, só para reuniões. Saio mesmo só quando preciso acompanhar as pautas, que às vezes são aqui em São Paulo, às vezes implicam em viajar. Então em geral, quando não há algo atípico, a minha rotina quem faz sou eu”, relata.
A assessora afirma que a maior dificuldade que tem é coordenar para que o artista consiga atender o jornalista no tempo adequado. Ela tenta administrar os dois lados porque acredita que ambos são igualmente importantes dentro desse trabalho.
Artistas
Marina falou que hoje em dia as fake news têm interferência direta nessa questão por causa das redes sociais. Ela enxerga duas situações. A primeira são as notícias falsas divulgadas em veículos de grande repercussão que vão se espalhando nas redes. Conta que nesses casos é preciso agir entrando em contato com o veículo e exigindo a retratação, que em geral é feita com uma nota no pé da página, bem menor e com menos destaque do que a notícia falsa.
A outra situação acontece com veículos sem expressão e sem credibilidade. Esses são ignorados pois se beneficiam com o trabalho da assessoria em negar suas informações, atraindo olhares para eles.
Sobre sua relação com os artistas, Marina conta que nunca deu nenhuma recomendação do que fazer ou deixar de fazer para melhorar a imagem. Diz que isso tem relação com a personalidade do artista, e que no seu caso tudo se trata muito da essência e do que acreditam. Se deixar de ser assim vão sair perdendo muito.
Afirma que nunca teve um conflito com os artistas com quem trabalhou. Segundo Marina, eles são interessantes, talentosos e gentis. “O único conflito é na hora de cobrá-los para que respondam logo as entrevistas por e-mail [risos]”.
Entre suas experiências, a jornalista diz não se lembrar de uma situação muito ruim. Lembra que mesmo quando Emicida foi preso em Belo Horizonte, ficaram apreensivos e tiveram muito trabalho, mas não foi a pior situação.
Fãs
Em relação ao assédio de fãs, Marina diz que não é algo com não lida o tempo todo. Afirma que os fãs têm importância fundamental, são quem faz tudo girar. Contudo diz que algumas situações precisam de cautela para que o artista não saia machucado. “É sempre analisar o quão problemático para todos aquilo pode se tornar. Eu não tenho problemas nessa hora em ser a chata e dizer que não vai rolar. Se não for o caso, claro que não há problemas. Já tirei muita foto para fã nessa vida”, comenta.
Marina diz que a relação com os assessores dos outros artistas em geral é boa e complementa que se relaciona muito com as casas de espetáculo também. “É sempre uma chance de olhar como se trabalha nos outros escritórios, aprender mesmo, ver o que podemos aprimorar”.
A jornalista finaliza dizendo que a melhor parte de trabalhar com o meio artístico é estar em contato com o rap, algo de que sempre gostou. “Não tem a ver com serem artistas necessariamente, mas sim com trabalhar com algo que eu realmente admiro, há uma relação afetiva mesmo. Nem sempre a gente dá a sorte de estar em um trabalho assim”, concluiu.
Ana Fontes e Julia Morita – 1º semestre de Jornalismo