Após diversos anos dentro de redações, o jornalista Roberto Pellim fez a transição para assessoria de imprensa. Hoje trabalhando como gerente de imprensa na Sabesp, ele conta sua trajetória ao DONC. Formado em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, pós-graduado em Gestão da Comunicação em Mídias Digitais pelo Senac, Pellim desempenhou várias funções em jornalismo. Foi redator e editor em jornal e atuou até em campanhas políticas. Ele ressalta que ter passado por várias áreas ajuda no trabalho de assessoria de imprensa.
Pellim conta que a vida de assessor não permite muita rotina e que a base da formação jornalística auxilia na antecipação de ideias para o contato com a imprensa. “O assessor precisa estar sempre ansioso por aprender, por conhecer coisas novas”, aconselha. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
Qual a maior dificuldade de ser assessor de uma empresa como a Sabesp, que é frequentemente alvo de críticas e polêmicas?
Roberto Pellim: A imprensa tem um olhar bastante aguçado sobre um órgão público. Isso é importante para a sociedade e exige da equipe de atendimento um conhecimento profundo sobre os assuntos. Além disso, as demandas costumam ter pouco prazo para apuração, não dá para perder tempo tentando descobrir qual área responde por um tema ou quem é a pessoa que deve ser procurada.
Por isso o assessor da Sabesp precisa estar preparado, ter conhecimento sobre a atuação da empresa, inclusive noções bastante técnicas sobre saneamento, meio ambiente, engenharia, por exemplo. Esse conhecimento prévio ajuda no atendimento à imprensa e na troca de informações, na transformação de um material feito por engenheiros em um conteúdo para a população. Precisa ter a curiosidade de tirar a dúvida, correr atrás da informação.
Existe um manual básico para gerenciamento de crises?
Roberto Pellim: Existe, cada empresa conduz o seu. Ele pode prever desde pequenas ocorrências até grandes catástrofes. A área de imprensa participa disso como uma parte do processo.
O que te levou a trabalhar nesse ramo?
Roberto Pellim: Eu já tinha passado por diversas redações, na Folha, no Metro, no Agora. Fui redator, editor-assistente, editor. Já tinha feito campanha política, trabalhado em ONG. Não enxergava mais uma oportunidade que me estimulasse, que me desafiasse. A segunda campanha que fiz estava acabando e eu precisava trabalhar, pagar a escola da minha filha. Uma chefe da época da campanha me indicou para a assessoria da Sabesp e eu resolvi tentar.
Não foi uma decisão fácil. Conversei com uma amiga, ex-colega da Folha, que tinha feito essa transição, e isso foi fundamental. Peguei a vaga, recomecei minha carreira, arrisquei e não me arrependo.
Como foi a transição do jornalismo clássico para a assessoria de imprensa? E quais foram as maiores dificuldades nessa transição?
Roberto Pellim: Tive muitas dúvidas, receios, insegurança. Em alguns momentos parecia que eu estava de novo na faculdade, começando no meu primeiro emprego. Tive sorte de encontrar uma chefe muito competente e uma colega mais experiente que me ajudou muito. Ela me disse: “Bem-vindo, meu nome é tal, esta é a sua mesa e recomendo que você leia imediatamente o Relatório de Sustentabilidade da Sabesp”. Consegui entender de forma global o que era a empresa e quais objetivos ela queria alcançar.
Com o tempo fui ficando mais seguro, principalmente quando entendi que o que eu tinha de fazer era ser jornalista, como sempre tentei ser. Foi como assessor que me senti mais completo como profissional. Você passa a pensar nos assuntos de uma forma muito mais global. Não adiantava mais apenas apurar uma pauta. Eu tinha de pensar em imagem, em porta-voz, em treinar esse porta-voz, em preparar respostas, um texto para divulgação.
Eu tinha de passar por várias etapas do jornalismo, da pré-pauta à edição. Hoje tenho uma visão muito mais completa do trabalho de comunicação.
Como é a rotina de um assessor de imprensa?
Roberto Pellim: Tão imprevisível como a de qualquer jornalista. A qualquer momento pode surgir uma oportunidade, por entrar uma demanda bombástica, pode aparecer uma apuração emergencial.
Há um horário fixo de trabalho?
Na teoria existe horário fixo, mas na prática isso varia muito, depende do que você tem para fazer no dia. Já acompanhei gravação às 3h da manhã, já pedi pizza na mesa de trabalho às 23h de uma sexta-feira enquanto montava um evento para as 8h de sábado. Uma vez entrei de madrugada, encerrei o turno às 14h, aproveitei para ir ao cinema e quando saí da sessão ainda estava sol. Já perdi dois pares de sapato durante o acompanhamento de obras, atolado no barro, um deles num sábado.
Não existe mais pescoção [jornada estendida na madrugada de sexta para sábado para concluir a edição de domingo], mas continuo tendo plantão. Aliás, desde o fim de março, quando me tornei gerente de imprensa da Sabesp, estou permanentemente de plantão.
Meu celular só não tocou ainda entre as 2h e as 4h da manhã. Em todos os outros horários eu já recebi ligações ou mensagens. É intenso, mas dá muito gosto você ver o resultado do seu trabalho, receber um agradecimento, ver que a equipe está empolgada.
Como é fazer uma campanha política? E as maiores dificuldades de realizá-las?
Roberto Pellim: Fazer campanha é uma experiência muito rica e completamente diferente do que eu estava acostumado. Tão diferente que nem sei definir um rótulo, um cargo, um nome para o que eu fazia. Tinha de produzir o conteúdo da campanha, validar as informações e divulgá-las em diferentes plataformas. Participei da montagem dos programas de TV, da escolha da foto do candidato, de eventos, debates. Era um trabalho em que a agilidade e a informação confiável e à mão contavam muito.
Ter sido um jornalista de redação ajuda no trabalho de assessor?
Roberto Pellim: Ajuda muito, tanto por saber com quem falar para trabalhar uma pauta quanto para perceber o melhor horário para ligar ou o veículo ideal. Ajuda por dar uma noção de como funciona a produção do conteúdo nos veículos, o que economiza tempo. Também para responder a uma demanda, por exemplo, você consegue imaginar quanto de espaço o assunto terá. Não digo que é essencial ter passado por redação para ser um assessor, mas ajuda sim.
Quais características um assessor de imprensa precisa ter? Que dica você daria para quem quer trabalhar nessa área?
Roberto Pellim: Considero que o assessor, como todo jornalista, precisa ter curiosidade, zelo com a informação e ética. Vale a mesma formação de um jornalista, de um comunicador, de alguém que trabalhe em jornal, TV, site, rádio, revista.
O assessor precisa estar sempre ansioso por aprender, por conhecer coisas novas. E precisa apurar direito, ser preciso. O que vai mudar em relação a quem trabalha na redação é o uso que será feito daquela informação, daquele conhecimento. A informação correta continua sendo o mais importante de tudo.
Ana Fontes e Eduardo Moreira – 1º semestre de Jornalismo