Periferia também é notícia

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Em 2010, Bruno Garcez, um jornalista da BBC Brasil, passou a dar oficinas de jornalismo cidadão a estudantes de comunicação das periferias de São Paulo. De início, ele atendeu três turmas de 20 membros cada incentivando-os a fazer uma leitura crítica da mídia. Izabela Moi, editora de educação da Folha de São Paulo, viu potencial no projeto, abraçou a causa e o fez tornar-se um blog dentro do site do jornal.

Equipe Agência Mural – Foto: Divulgação
Equipe Agência Mural – Foto: Divulgação

Influenciados pela chance de fazer comunicação da periferia para a periferia, muitos jovens tornaram-se “muralistas”, correspondentes de algum bairro com o papel de valorizar um ambiente invisível às redações. O diferencial do projeto é que os redatores não são pessoas de fora que estão opinando sobre, são pessoas que vivem aquilo que escrevem.

Passados cinco anos, o blog, que continua hospedado na Folha de São Paulo, já contou mais de mil histórias. Hoje, 70 muralistas cobrem uma extensão de mais de 50 bairros da capital e da Grande São Paulo, sempre trabalhando valores culturais e, parafraseando Eliane Brum, ressaltando vidas que ninguém vê.

Visão de dentro

Muralista entrevista morador em periferia da Grande São Paulo – Foto: Divulgação
A muralista Narahyana, correspondente de Itapevi, entrevista morador da região – Foto: Divulgação

A repercussão do blog na Folha de São Paulo foi significativa, mas e o morador da periferia? O leitor mais importante não dava resposta. Eles precisavam conhecer e ler o blog, sentir-se parte de um mundo que não só o da violência, crime e pobreza.  A solução encontrada foi ações presenciais dos muralistas nas periferias, na busca pela criação de laços entre o morador e o Mural.

O primeiro projeto a nascer foi o Expo Mural, exposições itinerantes que rolam nos bairros e disponibilizam todas as matérias já foram escritas sobre aquela região.  A ideia é mostrar para o morador que coisas boas de onde ele mora também podem ser contadas. Não é ruim ou vergonhoso morar na periferia. Ele é parte de tudo aquilo e o resultado foi gratificante. “O projeto melhorou a informação e mostrou como o morador conhece pouco o Mural e até mesmo o próprio bairro”, conta Vagner de Alencar, um dos muralistas.

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Os muralistas, Jéssica Costa, Cleber Arruda, Patrícia Silva e Thaís Santana,  expõem trabalhos na periferia – Foto: Divulgação

Outro projeto deles é o Mural nas Escolas, em que acontecem workshops de jornalismo cidadão para os alunos. Ele vai virar, ainda em 2016, uma rede de correspondentes das escolas para trazer a representatividade do jovem da periferia para a mídia. O Mural nas Universidades, por sua vez, realiza palestras e oficinas em faculdades de jornalismo para estimular os universitários a pensar como a periferia é representada pelos veículos tradicionais.

Estudantes de escolas da periferia assistem à palestra da Agência Mural – Foto: Divulgação
Estudantes de escolas da periferia assistem à palestra da Agência Mural – Foto: Divulgação

O mais recente projeto criado pela Agência Mural foi o Guia de Emprego das Periferias, uma plataforma gratuita que disponibiliza notícias sobre o mercado de trabalho e permite que os moradores busquem vagas próximas às suas casas.

“Eventos na periferia têm um alcance muito maior, sejam eles projetos culturais, ações inusitadas, curiosidades, empreendedorismo ou alguma criação. Temos muita repercussão porque nenhum outro veículo mais procura as coisas boas das periferias, os de fora tem outra visão”, comenta Jéssica Souza, muralista e social media do blog desde 2013.

Todos esses projetos ficam debaixo do guarda-chuva da Agência Mural, lançada oficialmente em novembro de 2015 a partir do blog. A equipe não recebe nenhum investimento ou retorno financeiro – “As pessoas envolvidas trabalham apenas porque acreditam na nossa missão, de tornar o jornalismo e o fluxo de notícias sobre a Grande São Paulo mais inclusivo e próximo da realidade”, conta Izabela Moi.

Institucionalmente, a agência ainda é um coletivo não formalizado, mas o objetivo continua o mesmo: crescer e mudar a forma como os cidadãos da Grande São Paulo enxergam e se relacionam com a região onde moram. Produzir informações relevantes, para que todos possam se sentir parte da mesma realidade e capazes de transformá-la.

Júlia Ciriaco (3º semestre de Jornalismo)

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