Carla Vilhena conta sua história de como é ser mulher dentro do mercado jornalístico
Letícia Vinocur, 2º semestre de Jornalismo
O feminismo é um tema em pauta hoje em dia. Discute-se muito a igualdade entre homens e mulheres e, ao mesmo tempo, a necessidade de conscientização em relação ao papel feminino dentro da sociedade e no mercado de trabalho. Mas nem sempre foi assim. A jornalista Carla Vilhena deu uma entrevista ao DONC sobre os obstáculos de ser mulher dentro do mercado jornalístico ao longo de sua carreira.
Carla Vilhena, que se formou na Faculdade Integradas Hélio Alonso, iniciou sua carreira como editora de imagens do Jornal Hoje em 1984. Com 18 anos já era apresentadora de um programa em rede nacional na TV Educativa e passou por algumas redes de TV, como a extinta TV Manchete e a Bandeirantes, antes de retornar à Rede Globo, em 1997.
O contrato com a emissora terminou em abril de 2018 e, desde então, a jornalista tem se dedicado a projetos pessoais. Para ela, esse momento da sua vida está gerando um impacto muito positivo e uma acomodação natural. “Estou passando por um processo de atualização e reciclagem”, declara Vilhena, que também afirma estar aprendendo a lidar com a carreira de empresária e estar renascendo, em um bom sentido.
Ao longo de sua trajetória, ela conta como encontrou diversos obstáculos no meio jornalístico, ainda muito dominado apenas por homens. Quando começou, havia praticamente só homens na redação e, nos estágios em edições de imagens, os homens tinham preferência.
Ao ser questionada sobre ter se sentido desconfortável alguma vez em sua carreira por ser mulher, a jornalista comenta um episódio no qual pediu para seu chefe escrever uma carta de recomendação para outra editora e, antes de entregar, resolveu ler. Na carta estava escrito: “vê se você ajuda essa gata, joga bem pra caramba”. Até hoje, ela não compreende porque foi definida e descrita daquele jeito. “Passei a vida toda lutando contra esse tipo de atitude e ensinei meus filhos a lutarem também”, diz.
Além disso, Vilhena cita situações que são naturalizadas socialmente na cabeça dos consumidores de notícia. Muitas vezes o homem é considerado o cabeça, mesmo que o trabalho tenha sido feito pelos dois. “Isso é acontece de forma natural na cabeça das pessoas”, comenta. Existem várias situações em que isso se comprova no meio jornalístico, como o primeiro “boa noite” ser dado sempre pelo homem.
A jornalista também acredita que sua ascendência na carreira demorou mais do que a dos profissionais homens ao seu redor e que a mulher poderia ser a pessoa mais preparada para o cargo, mas precisava provar muito mais que o homem. “Para ter uma ascendência maior, você precisa se comportar e assumir características masculinas, como o jeito de falar, ter um corte de cabelo mais curto, ou prender o cabelo em um coque bem apertado e sério”.
Vilhena afirma que hoje em dia houve uma grande melhoria nas desvantagens geradas pela desigualdade de gêneros dentro do seu meio profissional. Como exemplo ela cita que houve um tempo sem dupla feminina nas bancadas de telejornal e, apesar de ainda ser rara a aparição de duas mulheres na bancada, isso tem se tornado cada vez mais frequente. A jornalista crê que, para novas jovens jornalistas se tornarem bem-sucedidas e driblarem o machismo da profissão, é sempre muito importante ser sempre responsável por suas próprias escolhas e estudar o máximo que puder para serem as melhores.