O jornalismo policial pode trazer dúvidas aos estudantes sobre a segurança dos profissionais que atuam na área e sobre a relação com as fontes de informação.
Por isso, o DONC conversou com Josmar Jozino, jornalista e escritor de três livros sobre o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa que age nos presídios: Cobras e Lagartos (2004); Casadas com o Crime (2008) e Xeque-Mate (2016). Josmar trabalhou em veículos de comunicação como a Folha de S.Paulo, Jornal da Tarde e Diário Popular e hoje escreve para o site Ponte Jornalismo, que fala sobre a área policial com enfoque nos direitos humanos. O jornalista contou um pouco da sua experiência e deu dicas para quem considera seguir na área.
O que te fez escolher o jornalismo policial?
Josmar Jozino: Sempre gostei de escrever, mas não sabia o quê. Quando eu entrei no Diário Popular, trabalhava na madrugada fazendo relatórios para o editor de polícia. Mas eu deixava os relatórios no formato de matérias. O editor gostou e me levou pra editoria dele. Gostei e me especializei e virei repórter fixo.
Como um jornalista deve se portar quando acompanha uma abordagem policial?
Josmar Jozino: Você tem que ser isento, agir como repórter. Ser imparcial e agir sempre com ética. Se houver algum abuso, você tem que relatar tudo o que aconteceu e escrever na sua reportagem. Se merecer elogio, tem que elogiar também.
Você fez três livros sobre o PCC. Nesse processo, teve alguma situação complicada que você acha importante contar para estudantes que se interessem nessa área?
Josmar Jozino: Já passei e passo até hoje. Já fui ameaçado de morte, tive que andar com escolta. Na época, disseram que era o crime organizado, mas eu tenho certeza que não era. Eu tenho processos e mais processos, juiz já disse que ia me perder. A vida do jornalista é muito estressante porque você tem a concorrência entre os veículos e dentro do jornal mesmo.
E como você fez para lidar com isso?
Josmar Jozino: Precisa de muito apoio da família. O estresse causa problemas de saúde. Jornalista é uma das profissões mais estressantes e arriscadas do mundo, e isso causa sequelas. Tem jornalistas com problema no coração, que viram alcoólatras. É bem complicado.
Sobre seus livros, da onde surgiu a ideia de escrever sobre o PCC?
Josmar Jozino: A ideia veio das reportagens que eu fiz. Investiga ali, investiga aqui, frequenta uma Pastoral Carcerária ou um Centro de Apoio à Família e vai descobrindo as histórias. É o olhar da rua. Não tive nenhum problema com a relação com o crime organizado ou da família de integrantes em si.
Como você estabelecia a relação com suas fontes sem criar uma relação afetiva com elas?
Josmar Jozino: O jornalista é ser humano também, ele tem envolvimento. Quando você vê uma rebelião, uma mãe chorando por um filho decapitado, é impossível você não se emocionar. O que a gente pode fazer é tentar ser o mais honesto e imparcial possível, estabelecendo uma relação sincera com a fonte. E sempre narrar tudo com verdade.
Você entrevistou muita gente que tinha envolvimento direto com o PCC. Como foi lidar com a coisa do off e de ter cuidado para não expor a fonte?
Josmar Jozino: Nos meus livros eu optei por não usar os nomes verdadeiros, por achar que minhas fontes poderiam correr risco.
Você teria alguma dica para estudantes que desejam seguir na editoria policial?
R: O repórter tem que gostar muito da profissão. Saber que é desgastante, estressante e que você é jornalista 24 horas por dia. E você tem que sair, ir pra rua. Lugar de repórter é na rua. E o mais importante: sempre checar mais de um lado, nunca confiar em uma fonte só. Procurar checar as coisas da melhor maneira possível para não ser enganado e não cometer injustiça com ninguém. Os olhos e ouvidos são tão importantes para um repórter quanto uma caneta e um bloco.
Carolina Faria – 1º semestre de Jornalismo